EU SOU HEITORAÍ

Óh Heitoraí. De idas e vidas, aqui estou mais uma vez. Não como simples transeunte. Mas de braços abertos para minha terra querida. É estranho imaginar essa cidade como se fosse apenas as praças, casas, igrejas, ruas ou o rio Uru. Imagina isso tudo sem as pessoas para dar vida e sentido?

Essa pequena cidade não é apenas as edificações ou as belas paisagens que à cerca. Heitoraí é, acima de tudo, as pessoas e as famílias. Sujeitos que têm sonhos, que conversam, que escutam o canto dos pássaros, o barulho do leiteiro passando, o latido do cachorro do vizinho e o tradicional bom dia, tudo bem?

Nessa terra, o cheiro do café coado não é invadido pela poluição. O “olhar para o céu” é contagiado pelo  brilho das estrelas. As águas do rio Uru levam a ternura deste povo até o mudo.

Ah Heitoraí, que saudades me dá quando não estou aqui. De correr pelas ruas e rever conhecidos, de escolher passar pelos bloquetes ou pelo asfalto. De dar uma passadinha pela rodoviária. De chegar à praça e imaginar festas, barracas e brincadeiras. De pedir bênção aos tios e a vovó. De parar no bar, na pamonharia ou no pit-dog e observar as pessoas passando. De ir ao colégio conversar com todos, todos os amigos.

De ver as crianças e estudantes ansiosos pelos desfiles, feiras, quadrinhas e torneios de futebol. De ver o time favorito na TV ganhar e caçoar com os amigos. De tocar violão na praça da matriz e escutar estórias cabulosas.

Não me esqueço da zona rural. Do barulhinho do leite caindo no balde. Do vaqueiro e sua responsabilidade com os animais. De sua expectativa em apartar as vacas e ir para a cidade apreciar festas, sábados, jogos de futebol ou apenas sentar na porta de sua casa e apreciar o tempo lento.

Quando algo novo acontece, todos comentam. Ficam curiosos e o acontecido se “alonga” – pura ironia. Muitos preferem essa proximidade, pois na cidade grande as pessoas se sentem sós. Ir na casa do amigo é difícil, falta tempo. Se deparar com congestionamentos, filas e acidentes é rotina. É por isso que prefiro a familiaridade do lugar onde nasci. Pois aqui a terra tem primazia e o coração bate mais perto do afeto e da ternura – em ritmo que me leva a dizer: eu sou Heitoraí.

Como muitos Jovens, sou mais um que saiu de sua terra levando-a no coração. Estou no mundo como aprendiz. Mas uma coisa eu sei que nunca vou aprender: a esquecer essa terra, meu lugar infinito.

 

Texto apresentado no XVI FAHE - Festival de Artes de Heitoraí (2006) e premiado em primeiro lugar na categoria “Literatura Adulto”.

 


 

Denis Castilho