HEITORAÍ: DO ENGENHO CAPIM PUBA AO POVOADO DE CAPE

*Moura Lima

 

Nasci em dois de dezembro de 1950, num sábado chuvoso, às Três horas da tarde, no Engenho Capim Puba, município de Goiás, antiga Vila Boa, mas, foi registrado em Itaberaí pelo meu pai, em razão da dificuldade de acesso para Goiás. O engenho fora fundado pelo português Adolpho Gustavo Guedes de Amorim, em 1905, que, na verdade, era uma usina a vapor, e produzia açúcar, aguardente para abastecer o mercado de vila-boa e região. Foi trazido da Europa, e, no final, transportado em carretões puxados por bois até o rio Uru. Para a época, foi uma aventura ousada, e é o marco da industrialização de Goiás e da fundação do município de Heitoraí-Go.

Assim ficou na memória do tempo, a história do engenho Capim Puba, para ser contado mundo afora, notadamente aquelas madrugadas sertanejas de moagem, eram iluminadas pelas faíscas das chaminés, e o cheiro bom de cana moída, e o apito sonoro das caldeiras, que reboava pelas margens do rio Úru. O engenho recebeu varias pessoas ilustres, uma vez ao ano, os padres de VILA-BOA vinham de tropas para celebrar missa. Era o lugar dos encontros festivos e alegres, dos batizados e casamentos, que tiravam os sertanejos e ribeirinhos do isolamento daquele sertão bruto. As bandeiras militares, que desciam o rio Araguaia, para combater os índios avás-canoeiros às margens do Tocantins, bivacavam no engenho para abastecimento de víveres.

Na área da indústria, Adolpho Gustavo Guedes de Amorim, português radicado na velha capital entre 1908 e 1912 tinha uma sociedade para exploração da borracha em Conceição do Araguaia e, foi no contexto histórico, pioneiro na construção do engenho Capim Puba, isto é, a usina a vapor para fabricação de açúcar e aguardente, distante (nove) léguas da cidade de Goiás, sendo a primeira do Estado. A “Fazenda Capim Puba” foi um exemplo de agronegócio já naquela época. Em 29 de abril de 1920, morre Adolpho Gustavo Guedes de Amorim, no engenho. E os herdeiros, mais tarde vende a fazenda CAPIM PUBA, com o engenho, em 1930, para o paulista Francisco Crisóstomo e Joaquim Crisóstomo.

No alvorecer de 1938 chega à região o paulista Joaquim (Heitor) José de Paula, com a família e estabelece à margem esquerda do rio Úru, com a compra de parte da Fazenda Capim Puba de Francisco Crisóstomo. Por ser um homem religioso, Joaquim Heitor, para pagar promessa, em 1948, ergueu no alto, no chapadão de chão vermelho, uma capelinha, e ato contínuo doou a diocese de Goiás, dois alqueires de terra para a construção do povoado. E assim, nasceu o povoado de Capelinha, e, finalmente, em 1963 Heitoraí.

Por consequente, para consolidar a futura fundação do município, foi decisivo a atuação dos fazendeiros pioneiros: Joaquim Crisóstomo, Joaquim Heitor, Guiomar de Moura, Paulo de Lima, Olavo Costa Campos, Jorge Gama, Luís Cândido Queiroz, Geraldo Heitor e João Heitor.

Não obstante, urge lembrar a todos nós, e, ao executivo municipal, que, para preservarmos a memória histórica, para as gerações futuras, é de bom alvitre homenagear os pioneiros, com seus nomes em monumentos, praças e avenidas. Entretanto, se já o fez, nossos aplausos!

A emancipação de Heitoraí ocorreu através da Lei de Criação 6.653, de 08 de outubro de 1963, deixando de ser povoado/distrito de Itaberaí. De acordo com o ordenamento jurídico, foi nomeado para prefeito interino o fundador, Joaquim Heitor de Paula, em justa homenagem, em seguida, 1965, fez-se a primeira eleição municipal, e foi eleito Ary Teodoro de Souza para prefeito, e vice-prefeito Guiomar Rodrigues de Moura.

 

Resumo

Portanto, no correr do ano de 1899, com a posse da fazenda Capim Puba, Adolpho Gustavo Guedes de Amorim, deu inicio a fundação da região, e firmou-se, à verdadeira história do nascimento futuro de Heitoraí, que teve com marco primordial, à sua ação empreendedora de desbravamento e colonização. E, como marco civilizatório daqueles fundões de sertão bruto, o Engenho Capim Puba.

*Moura Lima é escritor (Goiano-tocantinense), advogado, romancista, contista, ensaísta, autor de várias obras. Membro da Academia Tocantinense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico, pertence à Academia Piauiense, como membro correspondente.